sábado, 20 de abril de 2013

Bairro Bom Retiro : Área para crescer ou preservar?

Prefeitura decide rever Plano Diretor do Bom Retiro, região visada por construtoras para obras residenciais com mais de 14 andares


Cercado de casas do início do Século 20, o Bairro Bom Retiro, especialmente a Rua Hermann Hering, enfrenta um dilema: como abrir espaço para o crescimento sem enfrentar consequências como a superpopulação, o aumento do trânsito, a descaracterização do patrimônio histórico e da paisagem? Com a revisão do Plano Diretor de Blumenau, em 2010, a região, que até então era considerada Zona de Localização Especial e só podia receber prédios de até quatro pavimentos, foi considerada Zona Comercial, que não tem limite de altura para edifícios. No entanto, a Secretaria de Planejamento Urbano já afirmou que vai limitar os andares de novas construções, a partir da revisão do Plano Diretor daquela área.
Os projetos para a construção de dois grandes prédios ocupando o mesmo terreno de residências tombadas – um de 14 andares na Rua Hermann Hering e outro de 17, na Rua Gertrud Gross Hering – e outros dois possíveis empreendimentos de grande porte despertaram a atenção dos moradores do bairro, preocupados com uma possível sobrecarga de população na região, e também do poder público.
O assunto foi tema da reunião entre as construtoras integrantes do Sindicato da Indústria da Construção de Blumenau (Sinduscon) e a equipe da Secretaria de Planejamento Urbano (Seplan) da prefeitura, na terça-feira. Segundo o secretário municipal Alexandre Gevaerd, é preciso redefinir o número de andares para aquele local, que deixaria de ser Zona Comercial:
– Vamos estudar a limitação e o afastamento entre as novas construções e as casas tombadas, desde a Rua Rodolfo Ferraz, próximo ao Hospital Santa Isabel, até a Hering. Aos empreendimentos já aprovados, a prefeitura não vai se opor. Até porque estão na legalidade.
Uma nova reunião ficou marcada para o próximo mês. Antes disso, o assunto também deve passar pelo Conselho de Patrimônio Histórico da cidade.
Presidente do Sinduscon, Amauri Alberto Buzzi censura as mudanças frequentes no plano e critica o modo como ocorreu a revisão do Plano Diretor, alegando que as propostas apresentadas pela entidade não foram consideradas pelo poder público na época.
– Se tivéssemos a cultura da preservação, o Bom Retiro não teria tantas construções. A liberação de um grande projeto no antigo campo do BEC, lugar onde também tem casas históricas, é um exemplo de que o município não obedece às próprias normas.
Para o presidente da Associação de Moradores do Bom Retiro, Roberto Ulrich, grandes prédios podem descaracterizar a região, que tem mais de 20 casas tombadas pelo patrimônio. Além disso, a preocupação é com o aumento no fluxo de trânsito.
Nosso protesto é contra a revisão do Plano Diretor que ocorreu em 2010, e não contra as construtoras. O erro está na aprovação dele.

Área exige cautela, diz arquiteto
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Furb, Vilmar Vidor considera que o problema das grandes construções em bairros como Bom Retiro e Ponta Aguda, com pouca possibilidade de expansão, está na aprovação do Plano Diretor.
– É bom não esquecer que houve vários desmoronamentos em 2008 e que o sistema de drenagem na área é muito frágil. Quanto maior o volume construído, o número de pessoas, veículos etc, mais violentos e desastrosos os efeitos ambientais.

Fonte
Reportagem : Tatiana Santos
Foto : Artur Moser



O desafio da Harmonia Estética
Harmonizar a construção de projetos modernos às residências tombadas ao longo da Rua Hermann Hering, principal via do Bairro Bom Retiro, é um desafio a ser superado, apontam especialistas e envolvidos com a questão. Sueli Petry, diretora do Departamento Histórico-Museológico da Fundação Cultural, comenta que o lugar mantém vivo um momento da história de Blumenau, dos anos entre 1930 e 1940.
– O vale do Bom Retiro ainda tem harmonia arquitetônica. Se deixar levantar grandes edifícios, perderemos este referencial. Evidente que o progresso exige medidas que vão conflitar com o antigo, mas tem que se pensar como fazer para harmonizar.
Presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Leocarlos Sieves pondera dois pontos: de um lado, novas construções podem causar impacto à natureza do local, de grande área verde preservada. De outro, a intervenção das construtoras nos terrenos de imóveis tombados garantiria a manutenção das casas.
Sérgio Waldrich é proprietário de quatro residências no local, três delas tombadas, incluindo a que pertencia a Ingo Hering, negociada com a Incorporadora Melchior Barbieri. Ele lamenta o estado de alguns imóveis, que não recebem qualquer obra de conservação. Favorável ao compartilhamento do moderno com o antigo, Waldrich cita como exemplo a Casa do Comércio, que recebeu uma construção contemporânea ao lado do prédio de 1923.
– A despesa de manutenção é alta e nem todos os donos têm condições de mantê-las. Já as construtoras com projetos para o bairro dispõem de recursos para deixá-las belíssimas por longos anos – avalia.
Já para o arquiteto Rael Belli, no caso específico da Hermann Hering, a combinação de edificações modernas com as antigas pode descaracterizar a beleza do lugar:
– É o momento de intervir e alterar novamente o Plano Diretor para não perdermos a paisagem que o bairro proporciona. Em outras situações, até é possível unir moderno e antigo, mas não acho que seja este o caso.
Fonte

PLANO DIRETOR
- O Plano Diretor é uma lei municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade. É um conjunto de regras básicas que determinam o que pode e o que não pode ser feito em cada parte de cidade. Ele é discutido com a população, aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo prefeito.
- O primeiro Plano Diretor de Blumenau foi criado em 1977 e, desde então, outras três revisões já foram feitas: 1989, 1996, 2006 e 2010.
- Em 2009, na primeira audiência para a revisão do plano para a região que compreende o Bom Retiro, compareceram 38 pessoas da comunidade. Na segunda, dos 137 presentes, apenas 17 representavam a comunidade.

Há quatro projetos de novos prédios cadastrados para a área
O Bairro Bom Retiro, atualmente, tem quatro projetos cadastrados na prefeitura para a construção de edifícios na região da Rua Hermann Hering. Dois deles já foram aprovados: Ingo Hering Residenz, com 14 andares, da Incorporadora Melchior Barbieri, e Pablo Neruda, com 17 andares, da Construtora Raymundi. Ambos planejam revitalizar e incorporar as respectivas casas tombadas aos condomínios.
A obra do Ingo Hering Residenz havia sido suspensa pela Justiça em outubro passado, a pedido do Ministério Público, que alegava que a visão da casa seria prejudicada pelo projeto. Na quinta-feira, a obra foi liberada pela Justiça, que pediu um recuo maior entre o prédio e o imóvel tombado.
O terceiro empreendimento, com previsão de duas torres de 18 andares cada, da Torresani Empreendimentos Imobiliários, e o quarto, de 19 andares, da Raymundi, ainda estão em tramitação.
Apesar da altura destoar dos demais imóveis, os empresários que têm os projetos aprovados lembram que não há irregularidade, já que a lei permite a construção.
– A Secretaria de Planejamento deveria fazer um estudo mais aprofundado da região. O lugar é especial, mas se não fosse permitido, não investiria naquela região – diz Luciano Raymundi, proprietário da Construtora Raymundi.
Para o sócio proprietário da Incorporadora Melchior Barbieri, Clóvis Barbieri, o Plano Diretor é dinâmico e precisa estar atualizado com as exigências da cidade:
– Apesar disso, o que não dá para compactuar é com a insegurança jurídica, que estabelece regras numa hora e noutra muda completamente. A maturação de um projeto é lento, e não pode ser pego de surpresa com exigências fora daquelas estabelecidas inicialmente.
A reportagem entrou em contato com a Torresani Empreendimentos Imobiliários, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.

Fonte

Nota do blogueiro : O tema é realmente controverso e divide opiniões. A minha ainda é favorável às construções, respeitando o bom senso. Torres com mais de 20 andares não encaixam no entorno e são agressivas visualmente. Outra é a questão do design das torres. Não dá para aprovar um pombal em forma de caixote com 100 apartamentos em cada um, que gere mais problemas do que benefícios. Sou a favor do limite de altura de 20 andares (aprox. 65 metros de altura) para o bairro Bom Retiro.
Quanto a questão do impacto no trânsito, são empreendimentos de alto padrão, com 1 apartamento por andar, que não geram tanto trânsito do que atualmente já existe pelo bairro. Milhares de pessoas utilizam esse caminho para desviar do trânsito do centro da cidade utilizando o morro da Companhia Hering.

2 comentários:

Paulo Almeida Reis disse...

Bom dia, Charles. Sabe dizer como está a situação dos empreendimentos da região?

Charles Ringenberg disse...

A altura foi reduzida para 8 pavimentos. Todos os outros projetos ou foram cancelados ou vão ser adaptados ao novo limite.