Prefeitura decide rever Plano Diretor do Bom Retiro, região visada por construtoras para obras residenciais com mais de 14 andares
Cercado de casas do início do Século 20, o Bairro Bom Retiro, especialmente a Rua Hermann Hering, enfrenta um dilema: como abrir espaço para o crescimento sem enfrentar consequências como a superpopulação, o aumento do trânsito, a descaracterização do patrimônio histórico e da paisagem? Com a revisão do Plano Diretor de Blumenau, em 2010, a região, que até então era considerada Zona de Localização Especial e só podia receber prédios de até quatro pavimentos, foi considerada Zona Comercial, que não tem limite de altura para edifícios. No entanto, a Secretaria de Planejamento Urbano já afirmou que vai limitar os andares de novas construções, a partir da revisão do Plano Diretor daquela área.
Os projetos para a construção de dois grandes prédios ocupando o mesmo terreno de residências tombadas – um de 14 andares na Rua Hermann Hering e outro de 17, na Rua Gertrud Gross Hering – e outros dois possíveis empreendimentos de grande porte despertaram a atenção dos moradores do bairro, preocupados com uma possível sobrecarga de população na região, e também do poder público.
O assunto foi tema da reunião entre as construtoras integrantes do Sindicato da Indústria da Construção de Blumenau (Sinduscon) e a equipe da Secretaria de Planejamento Urbano (Seplan) da prefeitura, na terça-feira. Segundo o secretário municipal Alexandre Gevaerd, é preciso redefinir o número de andares para aquele local, que deixaria de ser Zona Comercial:
– Vamos estudar a limitação e o afastamento entre as novas construções e as casas tombadas, desde a Rua Rodolfo Ferraz, próximo ao Hospital Santa Isabel, até a Hering. Aos empreendimentos já aprovados, a prefeitura não vai se opor. Até porque estão na legalidade.
Uma nova reunião ficou marcada para o próximo mês. Antes disso, o assunto também deve passar pelo Conselho de Patrimônio Histórico da cidade.
Presidente do Sinduscon, Amauri Alberto Buzzi censura as mudanças frequentes no plano e critica o modo como ocorreu a revisão do Plano Diretor, alegando que as propostas apresentadas pela entidade não foram consideradas pelo poder público na época.
– Se tivéssemos a cultura da preservação, o Bom Retiro não teria tantas construções. A liberação de um grande projeto no antigo campo do BEC, lugar onde também tem casas históricas, é um exemplo de que o município não obedece às próprias normas.
Para o presidente da Associação de Moradores do Bom Retiro, Roberto Ulrich, grandes prédios podem descaracterizar a região, que tem mais de 20 casas tombadas pelo patrimônio. Além disso, a preocupação é com o aumento no fluxo de trânsito.
– Nosso protesto é contra a revisão do Plano Diretor que ocorreu em 2010, e não contra as construtoras. O erro está na aprovação dele.
Área exige cautela, diz arquiteto
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Furb, Vilmar Vidor considera que o problema das grandes construções em bairros como Bom Retiro e Ponta Aguda, com pouca possibilidade de expansão, está na aprovação do Plano Diretor.
– É bom não esquecer que houve vários desmoronamentos em 2008 e que o sistema de drenagem na área é muito frágil. Quanto maior o volume construído, o número de pessoas, veículos etc, mais violentos e desastrosos os efeitos ambientais.
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Reportagem : Tatiana Santos
Foto : Artur Moser
O desafio da Harmonia Estética
Harmonizar a construção de projetos modernos às residências tombadas ao longo da Rua Hermann Hering, principal via do Bairro Bom Retiro, é um desafio a ser superado, apontam especialistas e envolvidos com a questão. Sueli Petry, diretora do Departamento Histórico-Museológico da Fundação Cultural, comenta que o lugar mantém vivo um momento da história de Blumenau, dos anos entre 1930 e 1940.
– O vale do Bom Retiro ainda tem harmonia arquitetônica. Se deixar levantar grandes edifícios, perderemos este referencial. Evidente que o progresso exige medidas que vão conflitar com o antigo, mas tem que se pensar como fazer para harmonizar.
Presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Leocarlos Sieves pondera dois pontos: de um lado, novas construções podem causar impacto à natureza do local, de grande área verde preservada. De outro, a intervenção das construtoras nos terrenos de imóveis tombados garantiria a manutenção das casas.
Sérgio Waldrich é proprietário de quatro residências no local, três delas tombadas, incluindo a que pertencia a Ingo Hering, negociada com a Incorporadora Melchior Barbieri. Ele lamenta o estado de alguns imóveis, que não recebem qualquer obra de conservação. Favorável ao compartilhamento do moderno com o antigo, Waldrich cita como exemplo a Casa do Comércio, que recebeu uma construção contemporânea ao lado do prédio de 1923.
– A despesa de manutenção é alta e nem todos os donos têm condições de mantê-las. Já as construtoras com projetos para o bairro dispõem de recursos para deixá-las belíssimas por longos anos – avalia.
Já para o arquiteto Rael Belli, no caso específico da Hermann Hering, a combinação de edificações modernas com as antigas pode descaracterizar a beleza do lugar:
– É o momento de intervir e alterar novamente o Plano Diretor para não perdermos a paisagem que o bairro proporciona. Em outras situações, até é possível unir moderno e antigo, mas não acho que seja este o caso.
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PLANO DIRETOR
- O Plano Diretor é uma lei municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade. É um conjunto de regras básicas que determinam o que pode e o que não pode ser feito em cada parte de cidade. Ele é discutido com a população, aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo prefeito.
- O primeiro Plano Diretor de Blumenau foi criado em 1977 e, desde então, outras três revisões já foram feitas: 1989, 1996, 2006 e 2010.
- Em 2009, na primeira audiência para a revisão do plano para a região que compreende o Bom Retiro, compareceram 38 pessoas da comunidade. Na segunda, dos 137 presentes, apenas 17 representavam a comunidade.
Há quatro projetos de novos prédios cadastrados para a área
O Bairro Bom Retiro, atualmente, tem quatro projetos cadastrados na prefeitura para a construção de edifícios na região da Rua Hermann Hering. Dois deles já foram aprovados: Ingo Hering Residenz, com 14 andares, da Incorporadora Melchior Barbieri, e Pablo Neruda, com 17 andares, da Construtora Raymundi. Ambos planejam revitalizar e incorporar as respectivas casas tombadas aos condomínios.
A obra do Ingo Hering Residenz havia sido suspensa pela Justiça em outubro passado, a pedido do Ministério Público, que alegava que a visão da casa seria prejudicada pelo projeto. Na quinta-feira, a obra foi liberada pela Justiça, que pediu um recuo maior entre o prédio e o imóvel tombado.
O terceiro empreendimento, com previsão de duas torres de 18 andares cada, da Torresani Empreendimentos Imobiliários, e o quarto, de 19 andares, da Raymundi, ainda estão em tramitação.
Apesar da altura destoar dos demais imóveis, os empresários que têm os projetos aprovados lembram que não há irregularidade, já que a lei permite a construção.
– A Secretaria de Planejamento deveria fazer um estudo mais aprofundado da região. O lugar é especial, mas se não fosse permitido, não investiria naquela região – diz Luciano Raymundi, proprietário da Construtora Raymundi.
Para o sócio proprietário da Incorporadora Melchior Barbieri, Clóvis Barbieri, o Plano Diretor é dinâmico e precisa estar atualizado com as exigências da cidade:
– Apesar disso, o que não dá para compactuar é com a insegurança jurídica, que estabelece regras numa hora e noutra muda completamente. A maturação de um projeto é lento, e não pode ser pego de surpresa com exigências fora daquelas estabelecidas inicialmente.
A reportagem entrou em contato com a Torresani Empreendimentos Imobiliários, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
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Nota do blogueiro : O tema é realmente controverso e divide opiniões. A minha ainda é favorável às construções, respeitando o bom senso. Torres com mais de 20 andares não encaixam no entorno e são agressivas visualmente. Outra é a questão do design das torres. Não dá para aprovar um pombal em forma de caixote com 100 apartamentos em cada um, que gere mais problemas do que benefícios. Sou a favor do limite de altura de 20 andares (aprox. 65 metros de altura) para o bairro Bom Retiro.
Quanto a questão do impacto no trânsito, são empreendimentos de alto padrão, com 1 apartamento por andar, que não geram tanto trânsito do que atualmente já existe pelo bairro. Milhares de pessoas utilizam esse caminho para desviar do trânsito do centro da cidade utilizando o morro da Companhia Hering.
2 comentários:
Bom dia, Charles. Sabe dizer como está a situação dos empreendimentos da região?
A altura foi reduzida para 8 pavimentos. Todos os outros projetos ou foram cancelados ou vão ser adaptados ao novo limite.
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