quarta-feira, 12 de junho de 2013

Entrevista com o Secretário de Planejamento Urbano de Blumenau

Engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes, Alexandre Gevaerd já prestou consultoria em várias prefeituras do Estado. Em Blumenau, atuou no governo do ex-prefeito Décio Lima, como presidente do antigo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Blumenau (Ippub). Antes de assumir a Secretaria de Planejamento no governo de Napoleão Bernardes, Gevaerd  trabalhava como diretor-presidente no Instituto Brusquense de Planejamento
e Mobilidade (IBPM). Em entrevista à Revista Unimed, o secretário fala sobre o sistema viário de Blumenau e os projetos para melhorar o tráfego na cidade.



Revista Unimed: Qual é o cenário de Blumenau quanto à mobilidade urbana?
Alexandre Gevaerd: O cenário é muito promissor. A cidade tem, por exemplo, um plano de transporte coletivo que vem sendo trabalhado desde 1993, quando houve a integração de três terminais. Depois, houve a construção do Terminal Fortaleza e o Terminal Velha. Agora, está quase em curso a construção do Terminal Água Verde e das Itoupavas – chegando a sete. Isso resolve a necessidade de terminais em Blumenau. E, nos últimos anos, o transporte coletivo evoluiu com a bilhetagem eletrônica e, recentemente, com os corredores de ônibus.

RU: Além do plano de transporte coletivo, existe o plano viário de Blumenau.
Gevaerd: O primeiro plano viário da cidade foi criado em 1977. Em 1996, foi feita a primeira atualização. Ali, foi estabelecido o que chamamos de plano
viário estrutural, que é a criação de anéis viários – já que um dos grandes problemas de Blumenau, além da topografia, é a ocupação intensa na área central. A primeira obra desse sistema foi a construção da Via Expressa; 
em 1999, inaugurou-se a Ponte Tamarindo; em 2012, foi inaugurado o Viaduto da Mafisa. Entre outras construções, teve início a ponte do Badenfurt.

RU: Quais os projetos prioritários para a mobilidade?
Gevaerd: Estamos resgatando os antigos projetos da ligação Velha-Garcia para que, até final do ano, tenhamos uma atualização dos custos e da viabilidade geológica. Juntamente com esses projetos, também estamos trabalhando na Ponte do Centro, que está sendo deslocada para compor
o anel na Ponta Aguda. Estamos abrindo um projeto para a definição da Rua Amazonas, com uma nova via paralela ao Ribeirão Garcia, e a construção de cinco pontes na região Sul.

RU: E quanto ao sistema cicloviário?
Gevaerd: Esse sistema foi iniciado em 1999 e, desde então, avançou e parou.  Hoje, existe cerca de 50 quilômetros em ciclovias na cidade, só que muitas delas não são ligadas. Temos feito reuniões com a Associação Blumenauense
Pró-Ciclovias para que nos auxiliem a definir os lugares prioritários e as alternativas de rotas a serem implantadas.

RU: Existem soluções a curto prazo para os problemas de mobilidade em Blumenau?
Gevaerd: Há uma esperança de Blumenau melhorar a mobilidade que, hoje, está bastante precária. Nos últimos 10 anos, a frota de veículos cresceu uma
taxa de 7% e a população 1,8%. Esse crescimento desequilibrado fez com que muitas rotas ficassem congestionadas. Para a solução mais imediata, temos o
plano de circulação pontual a ser aplicado naqueles locais que não têm como esperar uma mudança na vias estruturais. Estamos trabalhando em vários trevos e pequenos cruzamentos que precisam de melhorias geométricas para que o trânsito flua. Também temos medidas de sinalização e fiscalização, nas quais estamos com um plano para colocar painéis de velocidade em todos os
eixos da cidade. 

RU: Como o senhor avalia os corredores de ônibus?
Gevaerd: São um sucesso quase total. Se fôssemos fazer o projeto  novamente, talvez não seria totalmente igual – como agora na Rua Duque de Caxias, onde estamos refazendo o trajeto. Quando é um contra-fluxo, como
na Rua 2 de Setembro, também é um risco. Nessa região, estamos tentando intensificar bastante a sinalização para que possamos ter as correções  necessárias. Mas, de modo geral, a velocidade do ônibus e o tempo de viagem para o usuário são uma evolução.

RU: O governo passado lançou o Projeto Blumenau 2050 – um conjunto de obras que visa melhorar a cidade a longo prazo. Será dada continuidade?
Gevaerd: O Blumenau 2050 teve vários acertos, principalmente o de aglutinar diversos projetos que já existiam. Blumenau tem um plano viário desde 1996,
transporte coletivo desde 1993 e um plano cicloviário que começou em 1999. O Blumenau 2050 trouxe esses planos todos para um conjunto de projetos. Com o aumento na densidade de automóveis, estamos atualizando algumas
partes dele. Um exemplo é a Ponte do Centro que, a nosso ver, não pode mais ser construída na Beira-Rio, pois o estudo para construí-la ali é de 10 anos atrás. Mas a linha dorsal do Blumenau 2050 não será alterada.

RU: Sobre a Ponte do Centro, por que a nova localização?
Gevaerd: Fizemos estudos atualizados de fluxo e percebemos que a Beira-Rio está no limite, pois, como tiramos uma faixa destinada aos ônibus, ficaram só
duas para o trânsito de outros veículos. Temos somente quatro faixas no sentido Leste-Oeste:  duas pela Rua XV de Novembro e duas pela Beira Rio. O volume de veículos por dia nessas ruas já está em 30 mil – sem contar os ônibus. Tememos que, com a ponte sendo construída perto do Castelinho, mais pessoas seriam atraídas para esse trajeto. Com a ponte na Rua Alvin Shrader, podemos desviar o fluxo do Centro e criar, principalmente, ao transporte coletivo, uma passagem direta da margem esquerda para a margem direita. 

RU: Em 2012, o governo federal lançou o PAC Mobilidade Urbana, que prevê o investimento de R$ 7 bilhões para municípios de médio porte. Blumenau está nesse PAC ?
Gevaerd: Blumenau foi contemplado com cerca de R$ 80 milhões. Junto com o BID, que já estava aprovado, temos hoje a oportunidade de resgatar antigos projetos. Dentro desse PAC estão previstas obras viárias e todo o projeto cicloviário, de complementação e interligação de bicicletários. São R$ 15 milhões direcionados para ciclovias. Além disso, também está prevista
a criação do corredor de ônibus Sul, no Garcia; cerca de 100 abrigos de ônibus e dois terminais. 

RU: Pouco se fala em transporte alternativo em Blumenau, como trem, metrô,
bondinho etc. Há alguma modalidade viável para a cidade?
Gevaerd: Faz parte do estudo de governo a criação de novos modais de transporte. Temos um projeto muito bom, de 1993, que foi o estudo de um VLT elevado, e agora estamos resgatando projetos como esse. Temos buscado contato com especialistas para ser criado na cidade um novo modal, seja sobre trilho ou aéreo. Como modelo aéreo, temos os teleféricos. Na Colômbia, por exemplo, a implantação desse meio como transporte de massa
foi uma revolução. As tecnologias de transporte coletivo estão avançando e temos que pegar carona nisso. O estudo para um novo modal começa ainda neste ano, mas a implantação vai depender de concessões, já que o transporte coletivo é de iniciativa privada.

RU: Recentemente, a Câmara dos Vereadores aprovou, em primeira votação, projeto de lei que tira do Conselho de Planejamento Urbano (Coplan) o poder
de decisão sobre questões ligadas ao Plano Diretor, assumindo ela mesma essa função.  A justificativa é a de que, das 27 entidades que compõem o Coplan, 14 são vinculadas a Prefeitura e, portanto, diretamente subordinadas aos interesses do Executivo. Como o senhor avalia essa decisão da Câmara?
Gevaerd: Acreditamos, como a maioria das entidades, que o modelo atual é o modelo que tem funcionado, no qual a Câmara e a própria sociedade formulam
possibilidades e alterações no Plano Diretor. A secretaria faz, então, uma primeira triagem e leva ao conselho, que dá um parecer favorável ou não. Depois disso, a Câmara sanciona se o Coplan dá um parecer favorável. Entendemos que o Coplan, por ter uma representatividade muito ampla na cidade, é o órgão ideal para balizar ou não a eficácia de uma ou outra medida de zoneamento. O contrário seria se, eventualmente, o Coplan decidisse por alguma medida e a Câmara tivesse o poder de vetar essa decisão que já foi
bem discutida no conselho. Essa é a preocupação. Mas os vereadores têm a sua visão. Devemos esperar pelo bom senso deles ou a mudança de pensamento, pois é deles a palavra final. Se não houver mudança, iremos trabalhar da forma sugerida; um pouco preocupados porque a Câmara, às
vezes, é mais suscetível a pressões do que o conselho.

RU: O senhor presidiu o antigo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Blumenau (Ippub) no governo de Décio Lima. A realidade urbana de Blumenau, hoje, é muito diferente daquela?
Gevaerd: Isso foi há quase 10 anos. Então, realmente, a cidade cresceu muito, as demandas na Prefeitura também, a Secretaria de Planejamento evoluiu, tem um setor de cartografia exemplar. Mas a cidade requer mais evolução. Uma das determinações do prefeito Napoleão Bernardes é de que venhamos  a recriar um instituto para que possamos trabalhar com mais
agilidade e autonomia. Estamos conversando com cidades vizinhas, que possuem institutos de planejamento, para que, em um momento oportuno, seja criado em Blumenau um órgão direcionado mais para pesquisa e não tanto para o operacional.

Fonte: Revista Unimed - Edição 69 - Junho de 2013

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