Se nosso planeta vai receber mais quatro bilhões de habitantes até o final deste século, precisamos encontrar formas criativas de nos alimentarmos. Uma opção é transformar prédios em fazendas e cultivar alimentos no ar.
Ambas formas são radicais e envolvem aeroponia: um método originalmente desenvolvido pela NASA para plantar comida no espaço. Plantas aeropônicas não precisam de terra arável ou solo, apenas de água mineral. Defensores do método dizem que controlando o ambiente de forma apropriada, a aeroponia poderia reduzir dramaticamente a energia gasta com agricultura, eliminar pesticidas e fertilizantes e aumentar a densidade dos nutrientes dos produtos da colheita.
Imagem : Paul Goings |
Otimizando crescimento
Para Caleb Harper, fundador da CityFARM do MIT e pioneiro no desenvolvimento de fazendas tecnológicas, que tem anos de experiência no design de prédios ambientalmente amigáveis, o mundo é um lugar bagunçado e indisciplinado para plantar. Dentro dos confins de um prédio, todo recurso que uma planta precisa — desde CO² até água e luz — pode ser precisamente monitorado e controlado para maximizar a produção e minimizar gastos.
Imagem : CityFarm |
“Essa forma de cultivo permite às plantas ativarem todo o sistema da raiz”, diz Harper. “No solo, a planta cava em volta de si mesma e espera, o que não contempla toda a sua capacidade para obter água e minerais. Com a aeroponia, você pode fazer a planta crescer muito mais rápido”.
Buscando otimizar por completo o ambiente de crescimento, a equipe de pesquisa de Harper usa ferramentas para monitorar de forma meticulosa as necessidades da colheita. Sensores conectados à plantas sentinelas monitoram sinais vitais como turgidez das folhas; essa informação é enviada aos computadores e usada para determinar exatamente quando e por quanto tempo as plantas serão borrifadas. Essa água borrifada contém porções precisamente distribuídas de todo nutriente que a planta precisa — nitrogênio, fósforo, potássio, entre outros. Harper afirma que essa forma de cultivo é de 70% a 90% mais eficiente que métodos de irrigação tradicional, com potencial para alcançar até 98% de eficiência.
Quando água e nutrientes são disponibilizados em abundância, o crescimento da planta geralmente fica limitado pela luz. A CityFARM quebra essa barreira ao fazer uso de de lâmpadas LED para aumentar a quantidade natural de luz solar. As luzes LED são direcionadas às porções azul e vermelha do espectro visível que a planta usa para a fotossíntese. Na natureza, as plantas já passaram por diferentes ondas de luz até formar essa parte fotossensível. Heliospectra, a companhia que produz as lâmpadas da CityFARM, acredita que o Sol é coisa do passado (!) e que com lâmpadas bem calibradas, muitas plantações não vão nem precisar dele.
O experimento pode ser de pequena escala no momento, mas, até então, os resultados têm sido anormalmente bons. As plantas da CityFARM crescem de três a quatro vezes mais rápido do que cresceriam na natureza, em um ciclo de 30 dias, 365 dias por ano. Colheitas do prédio de cerca de 6 metros quadrados já providenciaram alimento para todos os 300 funcionários da Media Lab.
Comida e o Futuro
Imagem : Wikimedia |
“Estamos prestes a elevar o cultivo para produtos de alto valor — você já vê farmacêuticas e companhias de cosméticos fazendo uso dessas técnicas”, diz Harper. Ele prevê que plantas e vegetais que são caros em mercados e fáceis de cultivar, como vegetais folhosos, ervas e frutos fora da estação serão os próximos a adotarem a técnica. Intensificar essa produção pode ser economicamente viável se os sistemas aeropônicos puderem fazer uso das já existentes paredes de vidro dos grandes prédios. Uma possibilidade que a CityFARM já explora.
Uma opção radicalmente diferente seria restringir a produção. O último projeto de Harper envolve construir caixas de cultivo onde qualquer aspecto do ambiente da planta é precisamente monitorado e controlado. Ele a chama de “computador pessoal para comida”.
“Dentro caixa nós criamos o clima: tudo desde o CO² ao oxigênio até temperatura e umidade”, diz Harper.
Uma pequena berinjela cultivada por aeroponia. Imagem: Ben Yanis |
“Assim que você cultivar, digamos, um tomate, você recebe a informação da receita”, diz Harper. “Essa receita é exatamente a quantidade de CO², água e luz que foram usados. Então você liga para seu amigo, ele baixa a receita para a caixa dele e aperta o play. Ele então poderá saborear o mesmo tomate que o seu — a mesma textura, cor e sabor”.
É claro, essa caixa que permite a você e seu amigo cultivarem vegetais idênticos de lados opostos do mundo está de ser o que precisamos para alimentar uma cidade. Mas Harper acha que este “computador pessoal” é só o começo.
“Digamos que você tenha 10.000 dessas caixas espalhadas pela cidade. Como produtos, o uso individual e valor deles é muito limitado”, diz. “Mas se eles puderem se comunicar, eventualmente, teríamos um computador de distribuição de alimentos. Parte do meu trabalho é, inclusive, entender o que isso significa”.
Pode levar décadas até que cultivar milho e trigo em prédios — e a as caixas de alimentos — se tornem comuns. Mas a ideia cultiva o desejo de reinventar a agricultura de uma forma compatível com a vida urbana e moderna. Hoje, cada caloria consumida por um americano equivale a 10 calorias de combustível para produzir e encaminhar da fazenda para a mesa. Se Harper estiver correto sobre estes métodos de cultivo diminuírem o consumo de energia em até 80%, seria uma vitória para o meio ambiente como um todo.
Fonte : Gizmodo
O ser humano é muito criativo e adaptativo quando não está usando sua criatividade para sua autodestruição.
Chegará o dia em que grandes edifícios poderão ser totalmente sustentáveis e inclusive produzir comida para todo um bairro por exemplo. Não quer dizer que a comida no futuro será barata, muito pelo contrário.
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