terça-feira, 18 de setembro de 2012

Construtoras voltam os olhos para a classe média em Balneário Camboriú


Facilidades de financiamento e estabilidade econômica fazem da classe média a bola da vez no mercado imobiliário. Em Balneário Camboriú, imóveis de até R$ 350 mil estão entre os recordistas em procura – mas não são fáceis de se encontrar. Terrenos cada vez mais caros e escassos fizeram com que as construtoras deixassem, nos últimos anos, de investir em imóveis destinados à classe média na área central.
Com o aumento da demanda, os prédios começam a avançar pelos bairros e, aos poucos, mudam a paisagem de locais onde até então predominavam as casas. Uma tendência reforçada pelo surgimento de empresas especializadas neste nicho de mercado.
– A mercadoria para a classe média é escassa. A maioria dos apartamentos que temos à venda são grandes, com três suítes e três vagas na garagem, e custam entre R$ 800 mil a R$ 1 milhão. Um imóvel de dois dormitórios, no Centro, é um achado – diz Milton Silveira, delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis em Balneário Camboriú (Creci).
No último ano, bairros como a Vila Real, o das Nações e o da Barra passaram a ser visados pelos construtores. O volume de obras ainda é muito menor do que na área central, que concentra a maioria dos quase mil apartamentos entregues todos os anos na cidade. Mas, segundo dados da Secretaria de Planejamento, o número de projetos aprovados tem aumentado gradativamente.
Em alguns imóveis dos bairros chega-se a oferecer um padrão de construção parecido com os do Centro, com oferta de áreas para festas e lazer. O diferencial é mesmo a localização: quanto mais longe do mar, melhor o poder de barganha. 
– Construir nos bairros é uma forma de se atender aos dois nichos de mercado, porque a região central ficou inviável para a construção de imóveis para a classe média devido ao preço dos terrenos – explica Carlos Julio Haacke Junior, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon). 

Plano diretor 
Desde a aprovação do plano diretor, em 2008, não se permite construir em Balneário Camboriú apartamentos com menos de 80 metros quadrados. A intenção era qualificar o mercado imobiliário, e a mudança fez com que os imóveis pequenos deixassem de ser interessantes para os construtores. 
Lançamentos de imóveis com duas suítes no Centro até existem, mas os apartamentos são vendidos por, em média, R$ 500 mil. 
– O preço dos terrenos é baseado na classe AA. Só que a classe média é maior do que a alta e o mercado acabará tendo que se ajustar – diz Auri Pavoni, construtor e secretário Municipal de Planejamento por duas vezes. 
A expectativa é que a rediscussão do plano diretor possa trazer o assunto à tona e encontrar espaço para apartamentos mais baratos na área central, ou facilitar a construção de prédios nos bairros, onde há limitações de altura. Segundo o atual secretário de Planejamento, André Ritzmann, as discussões devem começar ainda este ano. 

Mercado em expansão atrai as construtoras 
Antes alvo apenas de construtoras de menor porte, os imóveis para a classe média começam a interessar também às gigantes do mercado na região. Especializada em apartamentos de alto luxo, a construtora FG lançou, em setembro, uma marca específica para imóveis destinados à classe média, a Neo G. 
Entre os lançamentos da nova marca estão um edifício no Bairro das Nações, em Balneário Camboriú, e outro na Ressacada, em Itajaí. Mesmo sem a pompa dos edifícios da FG à beira do mar, os prédios oferecem apartamentos de dois ou três quartos para famílias com renda mensal de R$ 3 mil a 7 mil, em condomínios com área de lazer. Os espaços são mais compactos que nos grandes empreendimentos, e há possibilidade de financiamento bancário. 
– Queremos oferecer qualidade em uma boa localização, embora não seja central – diz Charles Goertmann, coordenador de vendas da Neo G. 
Arquiteta e professora do curso de Engenharia Civil da Univali, Carla Ferreira de Macedo diz que a escassez de terrenos próximos ao mar é um dos motivos para que as construtoras se adaptem a um novo tipo de clientela: 
– Em Balneário Camboriú não há mais onde construir, e as construtoras acabam atuando em outros mercados – avalia. 

Edifícios avançam pelos bairros de Itajaí 
A migração da construção civil para os bairros, que começa a tomar corpo em Balneário Camboriú, já é tendência consolidada em Itajaí. A abertura do mercado de trabalho, nos últimos anos, fez com que a demanda por apartamentos aumentasse. Aos poucos, prédios residenciais feitos sob medida para a classe média começam a invadir bairros como a Vila Operária, Ressacada, São João e Fazenda. 
– São imóveis de dois dormitórios, que custam em média R$ 220 mil – diz Dinovan Aparecido Ferreira, delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Itajaí (Creci). 
A lei de zoneamento que está em vigor em Itajaí relaciona a altura dos edifícios ao tamanho dos terrenos – algo que deve mudar com a aprovação do novo plano diretor, que já passou pelo período de audiências públicas. 
Segundo o secretário de Urbanismo, Paulo Praun Cunha Neto, há previsão de que se imponham limites à construção de prédios altos em ruas estreitas de áreas residenciais, para evitar o adensamento populacional. 
O novo plano diretor está em vias de ser concluído. Dependerá, então, de aprovação da Câmara de Vereadores para que passe a balizar as novas construções.

Reportagem : Dagmara Spautz
Foto : Marcos Porto

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