quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Crise imobiliária nos EUA durará anos, preveem economistas


Economistas, construtoras e analistas de crédito imobiliário estão prevendo que a fraqueza da economia americana vai deprimir os preços de imóveis durante anos, restringindo o consumo nos Estados Unidos, causando mais execuções judiciais de imóveis e reduzindo a perspectiva de uma recuperação sustentável. Coincidentemente, o ministro Guido Mantega disse ontem em Nova York que enquanto os EUA não resolverem sua crise imobiliária há poucas esperanças de que o câmbio se estabilize e o Brasil não tenha mais de tomar medidas para evitar a valorização do real.
A expectativa é de que os preços de imóveis caiam 2,5% este ano e subam só 1% ao ano nos próximos 5 anos, segundo uma recente pesquisa com 100 economistas. Os preços já caíram 31,6% desde seu pico, em 2005, de acordo com o índice Case-Shiller, da Standard & Poor's, que inclui 20 cidades.
Se a previsão dos economistas for correta, isso significa que o setor imobiliário tem à frente uma década perdida em que, entre 2005 e 2015, os preços só recuperarão uma pequena fração do que foi perdido, deixando proprietários com pouco ou nenhum patrimônio em seu imóvel . A pesquisa foi feita pela MacroMarkets LLC, que cria títulos de investimento que permitem a investidores apostarem na direção de vários ativos, inclusive imóveis residenciais.
O estouro da bolha imobiliária nos EUA esfriou o consumo no país — o mais forte condutor do crescimento econômico americano —, com a erosão do patrimônio imobiliário contribuindo para o chamado efeito de reversão da riqueza, que leva as pessoas a gastarem com cautela porque se sentem mais pobres.
Um em cada cinco americanos que têm uma hipoteca deve mais que o valor do imóvel, e cerca de US$ 7 trilhões em patrimônio de proprietários de imóveis foram perdidos. O patrimônio imobiliário, que era 59,7% do valor das residências em 2005, agora não passa de 38,6%.
"Com toda a turbulência econômica, tanto doméstica quanto internacional, não há muita coisa que aponte para uma melhora do mercado imobiliário no futuro próximo", disse Ara Hovnanian, diretor-presidente da Hovnanian Enterprises Inc., uma das maiores construtoras americanas.
Embora os preços de imóveis não estejam caindo tanto quanto em 2008, uma preocupação é que mesmo quedas mais modestas se realimentem, levando mais proprietários para o vermelho e exacerbando a força negativa causada por mais execuções judiciais. Isso, por sua vez, leva bancos a apertarem a concessão de crédito, enxugando ainda mais o grupo de potenciais compradores de imóveis logo quando eles são mais necessários para comprarem imóveis executados que estão em poder dos bancos.
A queda do mercado imobiliário está pesando sobre a economia, em parte, porque casas confiscadas pelos bancos inibiram a construção civil, que costuma ser um motor de geração de empregos em fases como a atual. O Departamento de Comércio afirmou ontem que o início de novas construções caiu 1,4% em agosto para uma taxa anualizada e dessazonalizada de 417.000 unidades, um dos menores níveis desde 2009.
A situação tem implicações além das fronteiras americanas. "Os EUA têm de resolver a crise imobiliária", disse Mantega ao Wall Street Journal, argumentando que sem o setor de construção para gerar empregos e, assim, incentivar o consumo, a tendência será de contínua desvalorização do dólar ante o real — o que por sua vez acaba reduzindo as chances de queda de juros no Brasil.
Nos últimos 35 anos, o setor imobiliário contribuiu com 0,03 ponto porcentual do crescimento do produto interno bruto dos EUA, de acordo com pesquisa da regional de St. Louis do banco central americano, o Federal Reserve. Mas nos dois anos depois da maior parte das recessões, acrescentou 0,5 ponto ao PIB.
A queda do mercado não foi fácil para Greg Rubin, dono de uma firma de paisagismo na Califórnia. O faturamento caiu pela metade em 2007 e Rubin reduziu sua equipe de 21 para sete funcionários. Ele agora faz serviços por US$ 4.000, sendo que antes não fazia orçamento abaixo de US$ 10.000.
Como o valor dos imóveis não está mais subindo, as poucas pessoas que contratam Rubin estão pagando com sua poupança em vez de tomar emprestado contra seu imóvel. Isso diminui bastante o poder de compra da clientela. Além disso, disse Rubin, os preços de imóveis têm caído por tanto tempo que muita gente deixou de acreditar que reformas na casa vão aumentar seu valor.
"Há essa mentalidade de que os preços estão caindo independentemente das melhorias que se façam, então é uma causa perdida" para os proprietários, disse.
Quando os preços de imóveis sobem, geralmente os proprietários gastam mais dinheiro, mesmo durante períodos de fraqueza econômica, e isso gera empregos. Mas esse ciclo pode ter o efeito inverso, disse James Parrott, um conselheiro de alto escalão do governo na área imobiliária. "Conforme cai o valor da casa de uma família, ele pode passar de uma alavanca da poupança para um ralo da poupança".
Essas preocupações levaram o governo este ano a começar a consultar especialistas em busca de uma maneira de atacar o problema. A Casa Branca está estudando alternativas para encorajar os bancos a reduzir a dívida hipotecária de quem está seriamente no vermelho e outras alternativas. Até agora, porém, não há muitos resultados para mostrar.


Fonte : Wall Street Journal

Um comentário:

Álvaro Menegatti imoveis em jundiaí-sp disse...

Boa materia, acredito que o mercado imobiliario americano vai demorar muito mais tempo que isso para se recuperar desta crise.
Só espero que o Brasil não estaja no mesmo rumo.
Acredito tbm que o Brasil ainda vai ter muto trabalho para segurar a valorização do real.

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